domingo, 9 de janeiro de 2011

Deméter




Deméter era irmã de Zeus, e uma habitante do monte Olimpo. Ela era responsável pelas colheitas e pela fertilidade do solo, de modo que seu símbolo era uma espiga. Deméter não era casada e viveu poucos romances por meio dos quais teve seus filhos; o primeiro com seu irmão, Posêidon, que ela não queria, e por isso fugia constantemente, e até transfigurou-se em uma égua para intentar despistar o indesejável pretendente, que ao descobrir do disfarce, transformou-se também, e intencionalmente em um cavalo, dessa união nasceu Árion, um cavalo-falante; o segundo foi com seu irmão Zeus, pois é, ela bem que tentava fugir dos irmãos com os quais era obrigada a conviver, mas desse romance nasceu sua filha preferida, Perséfone, que num momento fora raptada por Hades e levada ao mundo subterrâneo; por último, é meio controverso o caso com um mortal, mas se for verdade, este fora o único que roubou o coração de Deméter, porém até quando Zeus não tinha conhecimento, pois ao saber, matara o rapaz. Com isso Deméter nos mostra que há amigos possessivos, mas saiba, há irmãos bem piores.

O fato, talvez, mais obscuro da vida de Deméter é a sua ligação com a cidade de Elêusis.
"Os Mistérios de Elêusis eram cerimônias de iniciação, com algum ritual pessoal a ser executado pelo novo participante. O culto era complexo, desenvolvido em vários dias. Há fragmentos de informações que permitem apenas perceber relances da celebração", diz a arqueóloga Elaine Veloso Hirata, da Universidade de São Paulo (USP).

Tudo indica que essa cerimônia começou após a saída de Deméter do Olimplo, em busca de sua filha Perséfone, o que fez com que a terra ficasse infértil e desolada sem a vigia de Deméter, trazendo fome e morte. Ao chegar a naquilo que um dia seria Elêusis, Deméter fora bem recebida por uma família que não sabia que ela uma deusa, uma vez que ela estava disfarçada de camponesa, e, dessa forma ficou habitando aquele local por um tempo, nesse ínterim ela ensina a cerimônia, com direito a sacrifícios e bebidas alucinógenas, para aquela família e partiu para outras terras, vagando sem destino, de forma que nessa viagem ocorrem diversas situações incríveis.

Por fim, Zeus vendo a lástima que se espalhava pela Grécia, procurou incessantemente Deméter e quando ao a encontrar, convocou uma reunião com todos os envolvidos no caso, de forma que fora determinado a Perséfone passaria metade do tempo com a mãe, e metade com seu marido, no mundo inferior.



Alguns sites:

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O gato branco - final






"como se não bastasse encravei-o num e depois noutro pé, deliciei-me com o brilho da dor para que assim não corra mais para os braços do meu amado."




Banhei o corpo dela com o vinho pestilento que brota do submundo e com meu punhal, comecei a riscá-la nas pernas, afundando lentamente o punhal sobre as coxas e sentindo o vermelho do sangue brotar, escorrer vagarosamente ao chão, ela, nesse suplício gritava pela morte incessantemente, mas ainda não havia terminado.


Algo nesse momento chamara minha atenção, percebi que não estávamos a sós, e ao olhar para o chão notei que havia um gato persa branco fartando-se daquele sangue maldito como se fosse mel dos deuses, abaixei-me e olhei para seus olhos amarelos faiscantes com a luz lunar, trincado como uma fenda de escuridão e desespero dos perdidos e condenados, que tão logo percebi que viera dos domínios soturnos de Hécate, e vinha com um pingente, um colar de prata com uma esmeralda quadrada e radiante, percebi então do que se tratava. Hécate ao notar os meus intentos não poderia perder os suspiros de uma vida em perigo de morte para suas magias, e aquele colar guardaria cada suspiro, cada lágrima e cada gota de sangue que corresse do rosto de Sêmele.


Restava ainda o rosto. Ao olhá-la ternamente como uma senhora olha um cordeiro no abate, ela horrorizou-se, chamou-me de louca, doente, cruel – tão doce essa palavra para mim -, além de muitos outros adjetivos que não pude perceber pela explosão de soluços desesperados e penetrantes. Subi em cima dela, de forma que meu rosto ficasse frente a frente com o dela, eu ainda via um brilho, em meio à escuridão, um brilho que faria de tudo para apagar o mais dolorosamente possível, ainda fixando-a eis que noto que o gato pula entre nós, e passeia languidamente, como num túnel, se sujando com sangue derramado. Ao chegar entre nossos rostos começar a lamber as lágrimas dela, e já satisfeito começa a morder a pele macia, arrastando as presas como uma navalha, fazendo com que fios de sangues banhassem totalmente e, eu, com minhas unhas, arrancava-lhe pedaços do pescoço e sentia a frenética pulsação da morte chegando, que a fazia sacudir a face de forma que as presas, tanto as minhas quanto as do gato, afundassem mais ainda na pele. Alucinada ela perdia momentaneamente a respiração, a boca se enchia de pêlos, do nariz só restava uma parte, mas olhos, esses ainda tinham um brilho.


Então parei, expulsei o gato antes que ele terminasse o meu trabalho, afinal era eu quem tinha quem destruí-la, eu, somente eu, aquela que deveria matá-la. E fiz, foi incrível vê-la toda banhada de sangue, arrancando suspiros entrecortados do fundo da alma, esperando a morte, que veio quando eu desenterrei o punhal da sua perna e cravei-lhe no pescoço, beijando-a e sentindo um jato de sangue lavar minha boa em meio aos pêlos e as lágrimas.


Por fim, olhei-a, e confesso-vos, estava divina, uma verdadeira obra prima que guardaria por um tempo no quarto, frente a Zeus, mas a natureza não é estática, e então resolvi pendurá-la de ponta cabeça no teto, para que o sangue escorresse melhor e deixá-la a sorte do primeiro vagabundo que encontrasse aquele corpo.


O meu trabalho estava feito, mas a alma da desgraçada não desceria ao inferno enquanto não vomitasse essa estória para você, meu querido Argos, que sendo agora morto, está encarregado de guiá-la, agora assim faça, pois tenho ainda uns corvos pra matar essa noite.



segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Vasos Gregos

Ao trazer à tona costumes e a própria vida dos gregos, não poderíamos deixar de de lado os tão famosos vasos, incrivelmente decorados. Além disso, a finalidade de post é trazer algumas formas comuns a esses vasos, que conforme a figura:



1/2/3/4 - Jarros para armazenar alimentos.
5 - Recipiente para misturar vinho com água.
6 - Simples tigela.
7 - Xícara.
8 - Jarra para cosméticos.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Hera, por Veronese




A temática grega sempre foi querida pelos pintores consagrados na arte ocidental. A idéia está agora em paralelamente aos contos, trazer algo mais técnico, e uma forma interessante é analisar alguns quadros. Alguns terão minha própria opinião, junto com um histórico, enquanto em outros serão baseados em livros de arte.

O momento em questão está voltado para a deusa Hera, e nada melhor do que trazer um quadro magnífico do pintor Paolo Veronese, cujo quadro acima é de autoria dele e intitulado “Juno despeja seus presentes sobre Veneza”, onde Juno é o nome dado pelos romanos à Hera.

O quadro reflete a afeição do pintor pela cidade que em 1553, por meio do monsenhor João Batista Ponchino, convida Veronese para a decoração de parte de um palácio, mesmo ano em que ele pinta essa obra.

Duas coisas chamam a atenção nesse quadro, a técnica e as cores, dignas de renascença italiana, além disso, vemos claramente uma linha que divide o quadro em dois planos, o divino e o terreno, representado por Juno e por Veneza respectivamente, também temos o não diálogo entre os personagens da tela e o espectador, de forma que parece que o autor busca enfatizar uma afeição tal de Juno para a Veneza, em que Hera e Veneza trocam olhares de amistosos, e muito mais do que isso, ao abrir os braços Veneza, além de estar disposta a receber os presentes, parece convidar Juno para o seu plano.

Em relação às modelos, segue-se um tipo físico comum nas obras de Veronese, representado por mulheres loiras e corpulentas, similares a “Bela Nani”, que deve ter incorporado os anseios estéticos do pintor.
Cores, formas, técnica aprimorada fazem desse quadro um belo exemplar da estética renascentista e da arte ocidental, afinal, Juno pode sim ser boa para alguns, como qualquer outro ser - humano.

O gato branco




Um relato de Hera, por ela mesma.



 Na verdade, não deveria contar essa passagem negra da minha vida, mas encontro-me diante do sufoco dentro da minha alma que me torna insuportável olhar no brilhante reflexo do espelho e sentir que os negros corvos de Hades rodeando minha mente, por isso que vim até aqui, no pequeno monte da vila Mégara ao norte do Olimpo conversar com você, meu querido Argos, agora, apesar de morto, sinto que sua alma vaga por este local, e eu sei, não está perdido em busca do inferno, mas sim a espera do meu relato, para que assim a pobre e infeliz venha a sucumbir definitivamente desse mundo.


A pobre infeliz que digo é Sêmele, mais uma amante do meu fiel esposo, e mãe de Dionísio – nunca gostei do menino, desde cedo dado ao vinho, aos escapes terrenos e muito fúteis para mim. De qualquer forma, venho aqui narrar o dia no qual deixei o espectro obscuro apossar-se do meu corpo e fazer das minhas mãos navalhas sutis.
Era uma tarde de verão, o pôr-do-sol estava majestoso – Apolo tem aprendido como a sutileza é a melhor forma de ser nobre – e lá estava ela, desgraçada! Deitada com uma expressão congelada de pavor no rosto – o que, de fato, inspirava-me um gozo incontrolável para maquinar alguns pensamentos – apesar de tudo, não sabia bem ao certo o que faria uma vez que a mulher já havia dado à luz ao menino, e ele foi poupado em troca dela. Volto ainda à questão do céu, ele estava fabuloso, uma linha rosácea cortava dois planos azuis gradientes e uma brisa noturna calma e gelada cortava os ares.


Então foi que eu desci vagamente ao plano da infeliz, que estava horrorizada e encolhida no chão, olhei tão profundamente em seus olhos, porque um pouco tempo estariam vidrados, e esperei qualquer manifestação de clemência – que infelizmente não tive -, de modo que resolvi agir.


Se por um lado pensaria você, meu querido Argos, que a mataria tão fácil e rapidamente, está enganado. Primeiro dei um conjunto de ervas preparado com muito esmero pela minha querida Higia, o que a fez dormir por um curto período de tempo, além de paralisar seus músculos até o pescoço, e, tão rápido ela desmaiou, coloquei-a num bloco de pedra, e esperei-a acordar.


Nesse momento, os tons negros da noite já haviam dominado o céu, e a lua banhava meu rosto pela fresta da janela, e as sombras a face da infeliz que surpresa esperava deparar-se com as chamas azuis do templo de Hades, mas as únicas chamas com as quais se deparou foi a da pequena fogueira preparada no canto na saleta. Parti para o meu intento, primeiro peguei um tição ardente do fogo e passei pelos seus pés, como se não bastasse encravei-o num e depois noutro pé, deliciei-me com o brilho da dor para que assim não corra mais para os braços do meu amado.

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Fim da primeira parte e conclusão na próxima.