domingo, 13 de fevereiro de 2011

O rapto de Perséfone – Um conto de Deméter - parte II





O pai então ouve a historia de Deméter e oferece modestamente a sua cabana para que ela pudesse descansar, uma vez que simpatizara com a mulher – é estranho, mas é um fato mais comum do que muitos pensam, mas há certas pessoas com as quais mesmo sem ter muito contato há certa aceitação, isso pode ser pelo tipo de personalidade, ou mesmo um modo de comunicar-se, ou de vestir, mas o que importa é que para aquele camponês, Deméter era uma pessoa que ele estimava só pelo primeiro contato, pela primeira expressão – sendo assim, após algumas relutâncias de Deméter, não por orgulho, mas pela preocupação em não incomodar ninguém, e também pela certa necessidade de ficar sozinha, acaba aceitando.


Quando as três pessoas chegam à cabana, que não ficava muito distante de onde estavam, então eles se deparam com uma criança enferma, o outro filho do camponês que estava deitado sobre um a cama sendo velado pela mãe, que sem esperanças esperava pacientemente pela morte do filho, que muito debilitado pelo pouco alimento que recebera contraiu uma terrível febre que o fazia ter constantes convulsões.
Era o que faltava para Deméter banhar em lágrimas, o sentimento de compaixão era o que mais predominava naquele momento no coração da deusa, tanto que só pela chegada dela na cabana o menino parou de ter convulsões e até respirava melhor. O banquete servido depois de um quarto de hora consistia em poucas frutas e ainda alguns frutos secos que ainda restavam pelas redondezas, nessa hora Deméter pediu para que a camponesa colocasse algumas papoulas na mesa para decorar, papoulas estas que ela havia colhido pouco antes de entrar e que fizeram com que o jantar satisfizesse a todos de um modo muito estranho.


Jantaram, conversaram e dormiram. No meio da noite, Deméter movida de compaixão foi em direção da cama do menino e começou a fazer um estranho ritual que consistia em colher das papoulas todo seu perfume e transferi-lo através das narinas do rapaz para o pulmão, como um sopro de vida; passar a flor pelo corpo do menino transferindo a ele sua cor rosada e vigorosa, e por último arrancar-lhe as pétalas e colocá-las em seu coração como sinal de vida eterna, no entanto, antes que ela cumprisse essa última parte, a mãe do menino assustada surpreendeu-a fazendo tal ritual e num lance de egoísmo materno puxou o menino para si, que neste momento estava totalmente curado. Deméter, no entanto não se irritou com o feito, mas simplesmente voltou em sua forma divina e iluminada mostrando para mãe que aquilo que ela ia fazer com seu filho daria para ele a vida eterna.


A mulher ao vê-la caiu aos seus pés implorando perdão por tão tamanha imbecilidade que havia cometido pelos seus cegos cuidados de mãe, Deméter, que apesar de contrariada tinha motivos para irar-se permaneceu calada, pois de fato, faria o mesmo pela sua filha, que até então estava perdida.


Curar o menino fora uma das formas de agradecer a hospitalidade daquela tão simples gente, mas Deméter não se conteve com esse feito, ensinou àquela família um ritual de fertilidade que seria o segredo para a prosperidade do que ainda seria uma cidade, a cidade de Elêusis. O ritual deveria ser feito em uma noite clara no início da primavera para convidar as flores mais fortes e vigorosas para os campos férteis daquele lugar, essas flores trariam consigo uma planta que seria o néctar do contato com a deusa Deméter, uma néctar que seria preparado com vinho branco e orquídeas, que deixaria inconsciente que o tomasse, tendo visões olímpicas e sobre-humanas.


O primeiro a sentir tais efeitos fora o camponês, o patriarca da família, que após tomar um gole da primeira bebida feita pela deusa, perdeu as forças e lentamente desabou pelo chão como o tronco de uma árvore cortada, por algum tempo permaneceu inerte, até o momento em que começou a levantar as mãos para os céus e balbuciar palavras sem sentido para os que presenciavam a cena. Logo após o efeito de tal poção acabar um vento leste soprou delicadamente no meio da noite com o cheiro dos narcisos revigorando as pessoas presentes.


Deméter advertiu-os, no entanto, que esse era um segredo familiar, que somente deveria ser utilizado pelas pessoas que compunham a família o que dela no futuro fizessem parte. Pouco a pouco a família dos camponeses de Elêusis ficou famosa, e muitas pessoas vieram habitar naquelas terras, onde agora o simples camponês era chefe, e seus filhos como príncipes, e a fama prospera da cidade continuava a varrer a Grécia e se solidificar como a melhor terra do mundo, como agradecimento foi criado um magnífico templo para Deméter, que fora esculpida conforme a visão que os primeiros camponeses tiveram dela, de uma forma simples, mas majestosa.




Final na parte III, até mais. ^^

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